quarta-feira, 29 de setembro de 2010

insone... em metamorfoses amorfas...





insone
.
em metamorfoses amorfas
devaneios delírios
deslizam
.
formam fornidas cadeias
candeias cadentes
incendeiam
.
à deriva indômitos desejos
insolentes insones
devassados
.
ânsias andanças animam
mudanças animosas
aninhadas
.
no seio sedento cede
fendas feridas
sendas
.
sendas frestas fendas
fremem setas
cerdas
.
serram sérios cenhos
cerzidos cerrados
senis
.
trêmulas tramas através
troncos tenebrosas
trilhas
.
meio às memórias mesclam
faces frestas
medradas
.
onde ondulam rugas
onerosas fugas
mascaradas
.
.
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sábado, 25 de setembro de 2010

Colham as rosas enquanto podem...




Robert Herrick

Aos Virgens, para aproveitarem o Tempo

Colham as rosas enquanto podem,
O Tempo passa voando;
E a flor que sorri agora,
Amanhã cai murchando.
.

O sol, glorioso farol nos céus,
Alto elevando-se,
Em breve ao fim da jornada,
Logo vai declinando.
.

A melhor idade é a primeira,
Tendo no sangue os ardores;
Passa a mocidade, e os piores
Tempos afastam os melhores.
.

Não sejam tímidos, usem o Tempo,
E, enquanto podem, sejam amados:
Tendo perdido os primores,
Ficarão sempre atrasados.
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Trad. livre/transcriação:
Leonardo de Magalhaens
http://meucanoneocidental.blogspot.com

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poema sobre o 'carpe diem' – aproveitem o dia, 'seize the day' – que aparece
no filme
Sociedade dos Poetas Mortos (Dead Poet's Society, 1989)
vejam a cena
http://www.youtube.com/results?search_query=carpe+diem&aq=f
.
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Robert Herrick
(England, 1591-1674)
.
To the Virgins, to Make Much of Time
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Gather ye rosebuds while ye may,
Old Time is still a-flying:
And this same flower that smiles to-day
To-morrow will be dying.
.
The glorious lamp of heaven, the sun,
The higher he's a-getting,
The sooner will his race be run,
And nearer he's to setting.
.
That age is best which is the first,
When youth and blood are warmer;
But being spent, the worse, and worst
Times still succeed the former.
.
Then be not coy, but use your time,
And while ye may, go marry:
For having lost but once your prime,
You may for ever tarry.
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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Feliz Anseio (Selige Sehnsucht) - Goethe




J W Goethe

Selige Sehnsucht
Feliz Anseio

Dizer apenas aos sábios,
Pois a plebe logo zomba:
O vivente eu desejo louvar
Que antevê a morte na chama.
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No frescor das noites de amor,
Que te gerou, onde geraste,
Sobrevem estranho sentir,
Quando a calma vela ilumina.
.

Não mais permaneces presa
No ensombrecer das trevas,
E te seduz novo desejo
Para a sublime união.

.
Distância alguma é custosa
A ti que avoas atraída,
E, afinal, ávida de luz,
És, mariposa, chamuscada.
.

E enquanto tu não tenhas
Cumprido: ‘Morra e transforme-se!’
És apenas um triste hóspede
Sobre a terra sombria.
.

Trad. livre/transcriação: Leonardo de Magalhaens

http://meucanoneocidental.blogspot.com



poema original em
http://www.gedichte.co/goe_jw38.html

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Selige Sehnsucht

Sagt es niemand, nur den Weisen,
Weil die Menge gleich verhöhnet,
Das Lebend'ge will ich preisen,
Das nach Flammentod sich sehnet.
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In der Liebesnächte Kühlung,
Die dich zeugte, wo du zeugtest,
Überfällt die fremde Fühlung
Wenn die stille Kerze leuchtet.
.

Nicht mehr bleibest du umfangen
In der Finsterniß Beschattung,
Und dich reißet neu Verlangen
Auf zu höherer Begattung.
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Keine Ferne macht dich schwierig,
Kommst geflogen und gebannt,
Und zuletzt, des Lichts begierig,
Bist du Schmetterling verbrannt,
.

Und so lang du das nicht hast,
Dieses: Stirb und Werde!
Bist du nur ein trüber Gast
Auf der dunklen Erde.
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(~1815)

J W Goethe
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sábado, 18 de setembro de 2010

Linhas Inscritas numa Taça feita de Crânio Humano (Byron)




Lord Byron

Linhas Inscritas numa Taça feita de Crânio Humano
Lines Inscribed upon a Cup formed from a Skull
1.

De início não me julgue sem gênio:
Não veja em mim apenas o crânio,
Do qual, não sendo cabeça viva,
Deixa fluir sem perder o ânimo.
.

2.

Vivi, amei, bebi, do mesmo modo:
Morri: deixe à terra os meus ossos;
Encha a taça – a mim não é ofensa;
O verme tem lábios mais toscos.
.

3.

Melhor conter a uva radiosa,
Que abrigar as larvas na lama;
Conter num formato de taça
A bebida divina, longe da cova.
.

4.

Onde outrora brilhou o gênio,
Deixe agora brilhar para outros;
Ah!, quando se perde os miolos,
Há melhor recheio que o vinho?
.

5.

Beba enquanto pode! Outros virão
Depois de nós, a ficarem iguais;
Livre-se do abraço da terra
Recite e festeje com um morto.
.

6.

Por que não? No dia-a-dia da vida
Nas cabeças abrigamos tristezas;
Salvo dos vermes e do barro,
Ao menos ter alguma utilidade.
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Trad. livre / transcriação: Leonardo de Magalhaens
http://meucanoneocidental.blogspot.com/
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Lord Byron

Lines Inscribed upon a Cup formed from a Skull
.
1.
Start not--nor deem my spirit fled:
In me behold the only skull,
From which, unlike a living head,
Whatever flows is never dull.
.
2.
I lived, I loved, I quaff'd, like thee:
I died: let earth my bones resign;
Fill up--thou canst not injure me;
The worm hath fouler lips than thine.
.
3.
Better to hold the sparkling grape,
Than nurse the earth-worm's slimy brood;
And circle in the goblet's shape
The drink of Gods, than reptile's food.
.
4.
Where once my wit, perchance, hath shone,
In aid of others' let me shine;
And when, alas! our brains are gone,
What nobler substitute than wine?
.
5.
Quaff while thou canst: another race,
When thou and thine, like me, are sped,
May rescue thee from earth's embrace,
And rhyme and revel with the dead.
.
6.
Why not? since through life's little day
Our heads such sad effects produce;
Redeem'd from worms and wasting clay,
This chance is theirs, to be of use.
.
Newstead Abbey, 1808.
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A tradução (ou transcriação)
feita pelo poeta brasileiro Castro Alves
.
A uma taça feita de um crânio humano
(Traduzido de Byron)
.
“Não recues! De mim não foi-se o espírito...
Em mim verás — pobre caveira fria —
Único crânio que, ao invés dos vivos,
Só derrama alegria.
.
Vivi! amei! bebi qual tu: Na morte
Arrancaram da terra os ossos meus.
Não me insultes! empina-me!... que a larva
Tem beijos mais sombrios do que os teus.
.
Mais val guardar o sumo da parreira
Do que ao verme do chão ser pasto vil;
—Taça — levar dos Deuses a bebida,
Que o pasto do reptil.
.
Que este vaso, onde o espírito brilhava,
Vá nos outros o espírito acender.
Ai! Quando um crânio já não tem mais cérebro...
Podeis de vinho o encher!
.
Bebe, enquanto inda é tempo! Uma outra raça,
Quando tu e os teus fordes nos fossos,
Pode do abraço te livrar da terra,
E ébria folgando profanar teus ossos.
.
E por que não? Se no correr da vida
Tanto mal, tanta dor ai repousa?
É bom fugindo à podridão do lodo
Servir na morte enfim p'ra alguma coisa!...”
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Bahia, 15 de dezembro de 1869
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terça-feira, 14 de setembro de 2010

Os Medos do Governo (B Brecht)




Bertolt Brecht

DIE ÄNGSTE DES REGIMES
Os Medos do Governo

1
.
Um viajante estrangeiro, que havia voltado do Terceiro Reich (1)
E foi interrogado sobre quem realmente mandava lá, respondeu:
O Temor.
.

2
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Com medo
O intelectual parava meio a um debate e observava
Pálido as paredes finas do gabinete. O professor
Deitava-se insone, apreensivo sobre
Uma palavra obscura que o inspector tinha desabafado.
A senhora idosa no mercado
Tem os dedos trêmulos diante da boca, para deter
A palavra furiosa sobre a péssima farinha. Com medo
O médico olhava as marcas de estrangulamento em
seu paciente, cheios de medo
Os pais olham os filhos como se diante de traidores.
Mesmo os agonizantes
Abafam ainda as vozes incertas, quando
Eles se despedem dos parentes.
.

3
.
Mas os próprios Camisas-marrons também (2)
Temem o homem que não ergue o braço (3)
E se assustam diante de quem
Lhes deseja um bom dia. (4)
As vozes altivas dos comandantes
São tão medrosas quanto os guinchos
Dos leitões que esperam a faca do abate,
E os gordos traseiros
Transpiram de medo nos assentos dos escritórios.
Compelidos pelo medo
Eles invadem as casas e procuram até nas privadas
E é por medo
Que ele queimam bibliotecas inteiras. Assim
O temor domina não apenas os dominados, mas também
Os dominadores.
.

4
.
Por que
Eles temem tanto a palavra franca?
.

5
.
Diante do portentoso poder do Governo
Com campos de concentração e celas de tortura
Com policiais bem-alimentados
Com juízes intimidados ou corruptos
Com arquivos com listas de suspeitos
Que enchem prédios inteiros até o teto
Deve se acreditar que o Governo não temeria
Uma palavra franca de um homem simples.
.

6
.
Mas o tal Terceiro Reich lembraria mais
Aquela obra do rei assírio Tar, aquela fortaleza portentosa
Que, segundo diz lenda, por nenhum exército
podia ser conquistada, mas que
Através de apenas uma palavra pronunciada, dita intramuros
Poderia desfazer-se em pó.
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Trad. Leonardo de Magalhaens

http://meucanoneocidental.blogspot.com/
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notas:
(1)Terceiro Reich (III Reich) é o nome dado ao governo nazista (1933-1945)
(2)Camisas-marrons referem-se aos soldados das tropas SA.
(3)Erguer o braço direito é o gesto da saudação nazista
(4)dizia 'bom dia' e não dizia a saudação nazista “Heil Hitler!”
.
.
.
Bertolt Brecht
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DIE ÄNGSTE DES REGIMES

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1
Ein fremder Reisender, aus dem Dritten Reich zurückgekehrt
Und befragt, wer dort in Wahrheit herrsche, antwortete:
Die Furcht.
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2
Angstvoll
Hält der Gelehrte mitten im Disput ein und betrachtet
Erblaßt die dünnen Wände seiner Studierstube. Der Lehrer
Liegt schlaflos, nachgrübelnd über
Ein dunkles Wort, das der Inspektor hingeworfen hat.
Die Greisin im Spezereiladen
Legt die zitternden Finger an den Mund, zurückzuhalten
Das zornige Wort über das schlechte Mehl. Angstvoll
Blickt der Arzt auf die Würgmale seines Patienten, voller
Angst
Sehen die Eltern auf ihre Kinder wie auf Verräter.
Selbst die Sterbenden
Dämpfen noch die versagenden Stimmen, wenn sie
Sich von ihren Verwandten verabschieden.
.
3
Aber auch die Braunhemden selber
Fürchten den Mann, dessen Arm nicht hochfliegt
Und erschrecken vor dem, der ihnen
Einen guten Morgen wünscht.
Die hohen Stimmen der Kommandierenden
Sind von Angst erfüllt wie das Quieken
Der Ferkel, die das Schlachtmesser erwarten, und die feisten
Ärsche
Schwitzen Angst in Bürosesseln.
Von Angst getrieben
Brechen sie in die Wohnungen ein und suchen in den
Klosetts nach
Und Angst ist es
Die sie ganze Bibliotheken verbrennen läßt. So
Beherrscht die Furcht nicht nur die Beherrschten, sondern
auch
Die Herrschenden.
.
4
Warum
Fürchten sie so sehr das offene Wort?
.
5
Angesichts der gewaltigen Macht des Regimes
Seiner Lager und Folterkeller
Seiner wohlgefütterten Polizisten
Eingeschüchterter oder bestochener Richter
Seiner Kartotheken mit den Listen Verdächtiger
Die ganze Gebäude bis unters Dach ausfüllen
Sollte man glauben, daß es das offenen Wort
Eines einfachen Mannes nicht zu fürchten hätte.
.
6
Aber ihr Drittes Reich erinnert
An den Bau des Assyriers Tar, jene gewaltige Festung
Die, so lautet die Sage, von keinem Heer genommen
werden konnte, die aber
Durch ein einziges lautes Wort, im Innern gesprochen
In Staub zerfiel.


.

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sábado, 11 de setembro de 2010

... visões...





Visões

1
.
vergadas varas vergastadas
verdejantes vicejam
volteiam
.
velozes nas vertentes
véus volúveis
volumosos
.
vorazes nas vagas
voluptuosas vozes
ventando
.
volvendo
velhos vultos
re-vivendo

2
.
fartos fardos velados
vergastadas febres
fervilham
.
frontes feridas varadas
vertendo fúrias
fenecem
.
fundas frestas vazadas
frementes vagas
fomentam
.
funestos festins finados
fornidas volúpias
vingam

3
.
voraz vazio violenta
volantes volúpias
voláteis
.
voluteando volvendo
vulgos
vocábulos volumosos
volúveis
.
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segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Louvação da Dialética (Brecht)




Bertolt Brecht

Lob der Dialektik
Louvação da Dialética
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A Injustiça continua ainda com passo firme.
Os Opressores pretendem mandar por dez mil anos.
O Poder assegura: do jeito que é, assim vai ficar.
Nenhuma voz além da voz dos Dominadores
E nos mercados grita a Exploração:
Agora é a minha vez.
Mas entre os Oprimidos muitos dizem:
O que queremos, nunca é possível.
.

Quem ainda vive, não diga: nunca!
O firme não é firme.
Do jeito que é, assim não vai ficar.
Quando os Dominadores tiverem falado
Devem falar os Dominados.
Quem ousa dizer: nunca?
De quem depende o durar da Opressão? De nós.
De quem depende para que seja destruída?
Igualmente de nós.
Quem está derrubado, que se erga!
Quem está perdido, vá à luta!
Quem percebeu sua posição, como será detido?
Que os Derrotados de hoje serão os Vencedores de amanhã.
E foi a partir do Nunca: Ainda hoje!
.
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.
.
.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Ode ao Grande Deus Mercado !




Ode ao Grande Deus Mercado!

“Moloch cuja mente é puro maquinário!
Moloch cujo sangue corrente é dinheiro!
Moloch cujos dedos são dez exércitos!
Moloch cujo peito é um dínamo canibal!
Moloch cujo ouvido é um tumba de fumaça!
Moloch cujo amor é infindo óleo e pedra!
Moloch cuja alma é eletricidade e bancos!
.
Moloch whose mind is pure machinery! Moloch whose blood
is running money! Moloch whose fingers are ten armies!
Moloch whose breast is a cannibal dynamo! Moloch
whose ear is a smoking tomb! (...)
Moloch whose love is endless oil and stone! Moloch whose soul
is electricity and banks!
(...)
Howl”, Allen Ginsberg
.
Ó Grande Mercado, Glória a Ti!
Ó Grande Deus da Livre-Iniciativa!
Ajoelhamos diante do Teu Sangrado Lucro,
Exaltamos a Tua Graça de Liberdade
Para explorar os humilhados e ofendidos
E excluir os miseráveis
Para o numeroso exército de reserva da mão de obra!
.
Ó Grande Padroeiro dos Financistas!
Seguimos Teu Mantra Sagrado
TIME IS MONEY! TIME IS MONEY!
A Ti sacrificamos o nosso Tempo e a nossa Juventude
Os nossos Talentos e os nossos Filhos
No altar da Mais-Valia!
Dai a nós os privilégios de Tua Fartura
Os milhões de notas verdes
Que faltarão aos que serão os mendigos fétidos
De amanhã!
.
Para satisfazermos as Tuas Excelsas Exigências
Nós estudamos, compramos, pagamos,
Seduzimos, criamos propaganda, inventamos Arte,
Morremos dentro de carros, matamos e roubamos.
.
Tuas Sagradas Exigências merecem
As nossas horas de insônia, o nosso estresse,
A nossa Ambição, a nossa embriaguez,
O nosso câncer, a nossa morte lenta,
A poluição de nossas metrópoles inchadas
De consumidores, retirantes e miseráveis!
.
Ó Grande Governador do universo econômico
Patriarca da Revolução Industrial,
Pedagogo severo das crianças exploradas
Na dura escola do trabalho infantil
Dos jovens educados para servirem
(sem qualquer consciência)
De engrenagem na Grande Máquina
A corporificação do Grande Moloch
a enriquecer e lucrar e concentrar
e explorar e devastar e escravizar!
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Ó Grande Criador de novas necessidades
Dos nichos do Consumo
Das tecnologias highTech, dos telefones portáteis,
Dos carros com GPS, dos motoristas com anfetaminas
Dos jovens com MP3, MP4, smartphone...
.
Ó Promotor ecumênico do Consumo Universal
Onde o que importa é compra e venda
E não fazes distinção de raça e credo
-seja cristão, judeu ou árabe, hindu ou ateu -
Desde que pague em dia, em cash ou cartão,
crédito ou débito, ou promissória, ou via boleto...!
.
Ó Promotor econômico da Paz Social
Onde o que importa é a Tranquilidade
De explorador livre para lucrar com
O Trabalho livre do Trabalhador livre
Que se ficar desempregado vai roubar ou
Morrer de fome!
.
Em Teu Santo Nome
É que desejamos a permanente Alienação
A departamentalização do Saber
Onde somos felizes ao sermos
Cotidianamente onidimensionais
Sendo Intelectual ou Proletário
Médico ou Comerciante ou Carteiro
Arquiteto ou Advogado ou Faxineiro
Estudante ou Policial ou Cientista
Professor ou Delegado ou Bandido
Em nossas celas acolchoadas
Ou forradas de pregos.
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Em tua Sagrada Cobiça
De novos consumidores para nossos produtos
Condenamos sem escrúpulos
Terra e Mar ao extermínio sistemático
Populações, fauna e flora a exploração
Até a extinção final
Condenamos a Vida e o Futuro
Do Futuro das gerações futuras!
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Em Teu balsâmico Nome
Perpetuamos a essência do indivíduo
Em sua Liberdade de consumir produtos
Seguir modas e modinhas
Escolher identidades e personalidades
Previamente disponíveis na Indústria Cultural
Do entretenimento do prazer alienado...!
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Ó Grande Doutrinador dos rebeldes
Que exilas os infiéis na miséria na indignidade
Enquanto apascentas os Teus fiéis
Na prosperidade das salas VIP de luxo
Nos condomínios de luxo
Nos resorts de luxo
Conduzindo-os em carros de luxo
enterrando-os em bosques funéreos de luxo...!
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Ó Deus Misericordioso dos Poupadores
Que permitiste a reprodução de dinheiro
Que produz dinheiro, juro que produz juro,
Magnata que produz miseráveis,
Construtoras que fabricam desabrigados,
Militares que produzem mortos em série,
E mais lucros que geram lucros,
E mais juros que produzem lucros,
E mais dinheiro que reproduz dinheiro,
E mais rico que fabrica pobre,
Na rentabilidade da conta corrente
Na jogatina das Bolsas de Valores!
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Ó Grande Deus Mercado,
Olhai por nós Poupadores,
Olhai por nós Consumidores,
Olhai por nós Produtores,
Olhai por nós Exploradores!
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Ago/10
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